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Um intelectual fascista do racismo reverso na Bahia negra

Texto: Manuela Barreto (@manuela_barretobarreto)


Antônio Risério escreve um artigo de opinião para a Folha de São Paulo intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”, com a descrição “Sob discurso antirracista, o racismo negro se manifesta por organizações supremacistas”.

O discurso de Antônio Risério é contextualizado na cultura norte-americana, validando sua tese com exemplos de ataques de afro-americanos contra asiáticos, brancos e judeus, desconsiderando o que se tornou os Estados Unidos diante da política de Donald Trump. Os discursos do ex-presidente republicano, Donald Trump, eram regularmente classificados como anti-migratórios, antimuçulmanos e sexistas. Em novembro de 2016, por exemplo, a Organização Não-Governamental (ONG) Southern Poverty Law Center registrou cerca de 867 casos de incitação ou intimidação racistas ou xenófobos em todo o país nos dez dias que se seguiram à sua vitória.

No ano de 2017, Trump adotou medidas de combate à imigração, com a lei anti-imigração, proibindo a entrada durante 90 dias de cidadãos de seis países predominantemente muçulmanos em terras norte-americanas. Em seguida, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos considera a medida de Trump parcialmente constitucional e garante que partes das ordens executivas do presidente entrem em vigor, ou seja, proíbe-se a entrada nos EUA de refugiados e cidadãos de sete países (Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen) que não tenham qualquer ligação a indivíduos que já residam nos EUA ou que não estejam em viagem para trabalho.

A política de Donald Trump, claramente, colabora com o fortalecimento de grupos racistas e xenófobos, instaurando um desequilíbrio na nação americana. Ao falar em nação, faz-se necessário a recorrência a Stuart Hall, quando afirma que as culturas nacionais são compostas de instituições culturais, símbolos e representações, sendo constituídas através de um discurso, produzindo sentidos com os quais nos identificamos e construímos nossa identidade, ou seja, não há identidade fixa.

(Sua omissão quanto à política de Donald Trump e suas consequências é fascista, senhor Risério!)

Um equívoco de Antonio Risério ainda pautar seu raciocínio numa lógica de identidade unificada, estática e disciplinar, não é possível pensar no sujeito negro, mas em múltiplas identidades, como afirma Kabengele Munanga, “a igualdade supõe também o respeito do indivíduo naquilo que tem de único, como a diversidade étnica e cultural e o reconhecimento do direito que tem toda pessoa e toda cultura de cultivar sua especificidade, pois fazendo isso, elas contribuem para enriquecer a diversidade cultural geral da humanidade”, ou seja, no Brasil, por exemplo, há afro-baianos, afro-maranhenses, negros cariocas, comunidades quilombolas, uma diversidade cultural de identidades afro-brasileiras. Nos Estados Unidos, o processo migratório sempre foi intenso, devido ao seu caráter imperialista, com uma rede extensa de consumo da cultura norte-americana, além do fenômeno da globalização, formando identidades fragmentadas, múltiplas, heterogêneas.

Assim como existem brancos de direita, há negros extremistas nos Estados Unidos. Um país que teve um representante fascista como Trump não poderia ficar imune às suas ideias antimuçulmanos, sexistas, xenofóbicas e excludentes. Assim como, no Brasil, parte da população é dominada por pensamentos bolsonaristas, que menosprezam os pobres, os desvalidos, as mulheres, os homossexuais, os deficientes, numa completa aliança com os ideais de Hitler. O senhor Risério deveria saber que a Ku Klux Klan está em toda parte, ocupando a mente até mesmo dos que não gozam de prestígios, mas precisam de autoafirmação.

O discurso do senhor Antonio Risério adquire uma dimensão ainda mais racista, de um sujeito privilegiado e alienado, quando faz referência à ação afirmativa como ato fundamentalista e discorre sobre o fascismo negro sem referenciá-lo enquanto ideologia suscetível a dominar mentes fracas como a sua, um antropólogo que deveria contextualizar os fatos e apenas os descreve isoladamente como movimentos minoritários, dispersos, como todos os demais por ele narrados.

Encerro este texto-resposta com as palavras de Lélia Gonzalez, senhor Risério: “a gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora. Aí entra a questão da identidade que você vai construindo. Essa identidade negra não é uma coisa pronta, acabada. Então, para mim, uma pessoa negra que tem consciência de sua negritude está na luta contra o racismo. As outras são mulatas, marrons, pardos etc.” Nossa luta não é a sua luta, senhor Risério, mas pode haver respeito diante do que somos e da guerra diária que travamos para termos a nossa dignidade reconhecida.

Com esse seu pensamento disruptivo, Antonio Risério, o senhor declarou-se um intelectual fascista instalado em nossa Bahia negra.

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